A omissão histórica do Estado

Florianópolis tem mais de 70 favelas. A maior parte das ocupações irregulares é reconhecida oficialmente, através de projetos aprovados na Câmara de Vereadores. O parlamento municipal admite denominações de servidões, que são, ao fim e ao cabo, a prova maior de que não houve planejamento urbano nesses bairros populares. O leitor sabe quantas servidões existem em Florianópolis: 5.000. Isso mesmo. São 5.000 ruelas implantadas pelos próprios moradores, sem qualquer tipo de controle do poder público.

Assim, não é de se estranhar que, mesmo em menor proporção, tenhamos aqui um retrato tão explosivo quanto o do Rio de Janeiro. Exatamente porque a questão do tráfico de drogas está intrinsecamente ligada à existência (e tolerância estatal) de uma rede de situações sociais complicadas, cuja única serventia é sustentar currais eleitorais. O que acontece no Rio é fruto de décadas de descaso do poder público. Nossa situação não é diferente, embora, em escala, nossas mazelas relacionadas à violência ainda sejam muito menores.

Iraque

A guerra urbana do Rio de Janeiro dominou novamente o twitter no dia de ontem. Debates entre tuiteiros sobre a questão do tráfico e do consumo de drogas prolongaram-se durante todo o dia. Muitos apoiaram a reação do Estado contra a baderna criada pelos criminosos. Anotei, do tuiteiro Mag_AK: “Dormi no Rio, acordei no Iraque”.

Festas singelas

O prefeito Dário Berger parece ter designado o homem certo para a função certa. Homero Gomes, na Secretaria de Turismo, está resgatando tudo do bom e do melhor que Florianópolis sempre teve – uma árvore tradicional na Beira-mar, sem pirotecnia; Praça 15 toda iluminada para o fim de ano; e o pinheiro (aquele que fica bem em frente à Catedral Metropolitana) decorado com lâmpadas coloridas, como era no passado; ruas e mais ruas decoradas com iluminação especial.

Sem megalomania

Além de tudo, haverá coral de crianças nas janelas do Palácio Cruz e Sousa, lembrando aquilo que o banco Bamerindus fazia há alguns anos num antigo sobrado de Curitiba. E o que mais nos agrada é justamente isso: manifestações culturais singelas, mas autênticas, sem gastos exagerados, sem vaidades e megalomanias.

Transparência

E para que não restem dúvidas: estão publicadas no Diário Oficial do Município, edição do dia 24 deste mês, os editais de licitação para escolha da empresa que vai montar a estrutura das festas de fim de ano na Avenida Beira-mar. Propostas serão julgadas no dia 7 de dezembro.

Vivendo e aprendendo

Murilo Souza corrige a coluna quanto ao uso do termo “logomarca”, na edição de ontem. Na origem etimológica da palavra, “logo” e “marca” são expressões (do grego) que querem dizer a mesma coisa (significado). Logo, “logomarca” é um pleonasmo, a mesma coisa que dizer “subir para cima”. Muito obrigado, Murilo. Vivendo e aprendendo.

Reengenharia

É claro que a Aflov (Associação Florianopolitana de Voluntários) não pode simplesmente desaparecer, por conta das denúncias apresentadas pelo Notícias do Dia ao longo desta semana. Mas que a Aflov precisa passar por uma reengenharia ética, não resta a menor dúvida. Que tal publicar na internet, disponível a todos, um relato transparente de suas movimentações financeiras e do público beneficiado por suas ações?

Inversão

Motoristas multados indevidamente porque “furaram” sinal vermelho por ordem de guardas municipais não têm que se incomodar com a anulação dos atos de infração emitidos. Tem que ser o contrário: o poder público é que tem que procurar os motoristas autuados e, ainda, pedir desculpas. O nome disso é respeito ao cidadão. Mas aqui, de forma humilhante, a cidadania é sempre esmagada.

Carlos Humberto (esquerda), com Joceli de Souza, na Academia de Comércio, antes da reforma

Adeus, mestre

Poucas semanas depois da morte de Lauro Junkes, a Academia Catarinense de Letras perdeu ontem mais um de seus membros: o historiador Carlos Humberto Pederneiras Corrêa, também presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Recentemente, conversamos durante muito tempo nas proximidades do prédio da antiga Academia de Comércio, que está sendo reformado e em breve será sede das duas instituições culturais. Ele acompanhava as obras de perto, com muito interesse, desde o início dos trabalhos.

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Por conta do falecimento do professor Carlos Humberto Pederneiras Corrêa, a Assembleia Legislativa cancelou a sessão solene que faria no dia 30 deste mês, em homenagem aos 90 anos de fundação da Academia Catarinense de Letras.

Folga

O poder público deveria dar o exemplo, mas não dá. Carro oficial da prefeitura de São José foi flagrado nessa situação, sobre uma calçada, no bairro Capoeiras. Trata-se de uma atitude que merece nossa indignação, ainda mais que o veículo pertence à Secretaria da Saúde daquele município.

Mercado

Será hoje, à 14 horas, no Conselho Regional de Contabilidade, a audiência pública sobre o mix de ocupação e comercialização do Mercado Público de Florianópolis. O encontro, promovido pela prefeitura, deve ser concorrido, por conta dos inúmeros interesses que envolvem o assunto.

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A presidente da FloripAmanhã Zena Becker, por certo repassará informações importantes sobre o Mercado Público de São Paulo, que visitou esta semana. Ela foi à capital paulista para receber o Prêmio Von Martius de Sustentabilidade e aproveitou para conhecer melhor o mercado local.

Verão promete

Dois pitacos do leitor Gilberto Rateke Júnior: “A situação não está fácil, não. E o nosso verão promete: falta de água; (i)mobilidade no trânsito; violência; furtos. Será que sol e praias compensam tudo?

Sobre o dia de Santa Catarina é uma vergonha o que (não) fazem com a nossa História!”.

Meia-roda?

Está marcada para dia 13 de dezembro, às 19h, no Centro Comunitário do Pantanal, a audiência pública para apresentação do projeto de revitalização da Rua Deputando Antônio Edu Vieira, via que liga a UFSC ao bairro Saco dos Limões (trevo do Armazém Vieira). A sociedade precisa questionar: o que vai ser proposto resolve o problema ou é mais uma solução meia-roda?

5 comentários sobre “A omissão histórica do Estado

  1. Essa matéria é do site http://www.ucho.info, que retrata a mais fiel realidade do que ocorre no RJ, onde o governador se reelegeu com quase 70% dos votos. Aí tem…

    Vila Cruzeiro: favela ocupada pelo Bope é reduto de estrelas do futebol e da música
    25.11.2010 – 6:23pm | Seção: Política

    Antes de mais nada –

    O espetáculo típico de telas de cinema que a polícia do Rio de Janeiro patrocinou na tarde desta quinta-feira (25) na Vila Cruzeiro, em busca dos traficantes que aterrorizaram a região metropolitana da capital fluminense, poderia ter acontecido muito antes, se analisadas com calma as informações de representantes do governo estadual. Segundo declarações do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, as ações partiram do Comando Vermelho, cujos integrantes presos em estabelecimentos penais e segurança máxima estão sob monitoramento há meses.
    Ora, se o governo do Rio tinha as informações sobre o movimento dos traficantes e nada fez para impedir os recentes ataques, alguém deve surgir em cena para as devidas explicações. Por certo, a omissão da polícia foi encomendada, pois uma ação para a ocupação da favela de Vila Cruzeiro poderia interferir na corrida eleitoral rumo ao palácio Guanabara, que teve como vencedor o agora reeleito Sérgio Cabal Filho.
    Fora isso, a blindagem da Vila Cruzeiro, estranhamente respeitada pelos policiais, se deve ao fato de que muitas celebridades estão ligadas direta ou indiretamente à região. Atualmente jogando pela Roma, o atacante Adriano nasceu na Vila Cruzeiro, onde era visto com frequência ao lado de traficantes. Não faz muito tempo, o jogador se deixou fotografar ao lado de criminosos enquanto, emoldurado por armas longas (fuzis e metralhadoras), usava as mãos para formar as letras CV, iniciais de Comando Vermelho.
    Foi lá, na favela controlada pelo tráfico, que Adriano se refugiou durante alguns dias antes de romper o contrato com a Internazionale de Milão. Na ocasião, o jogador, que circulou por ruas e vielas na garupa da moto de um traficante, disse que perdera a vontade de jogar futebol. Outro astro do futebol que deu explicações à Justiça por suas incursões na referida favela é o também atacante Vagner Love.
    Rainha da pop music, a cantora Madonna, em sua passagem pelo Rio de Janeiro, fez questão de visitar a Vila Cruzeiro, onde se encontrou com uma criança da comunidade. Mas vale lembrar que foi exatamente na Vila Cruzeiro, em um local batizado pelos criminosos com o nome de microondas, onde corpos de vítimas são queimados, que a polícia encontrou o corpo do jornalista Tim Lopes. A frequente visita de celebridades ao local transformou uma das maiores favelas cariocas em um território cuja inviolabilidade era até ontem respeitada inclusive pelas autoridades

  2. Caro jornalista, acho que já passou da hora de a imprensa realmente investigar/questionar essa novela eterna reforma da Ponte Hercílio Luz, que se arratsa há 30 anos, mas que nesse governo envolve somas vultosas, numa escancarada roubalheira vergonhosa para nós Florianopolitanos… Todos já sabem que a empresa que está responsavel por refazer o tal vao central da ponte, que diga-se de passagem, é daquele cara que joga dinheiro pro ceu e se finge de silvio santos, o douglas aguiar, com esse atraso, ficará mais um ano recebendo no mole.. Depois nao entendem de onde surgiu a amizade entre ele e o Wilfredo, que é amigo do Vinicius que é querido, que é amigo do LHS…

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