Ponto Final – 2 de agosto

Samba intrigado

Imagine, leitor, a seguinte cena: num evento carnavalesco chega, de repente, o rei momo de Florianópolis, Hernani Hulk. Circula sozinho, à paisana, olha em volta, caminha timidamente entre as pessoas, como um cidadão comum.

Foi isso que aconteceu na festa da Grande Rio, na última sexta-feira, em que a escola fluminense apresentou sua proposta para o Carnaval 2011 – “Y Jurerê Mirim”, ou seja, Florianópolis.

Havia um clima muito forte de cochichos, ciúmes e intrigas, entre autoridades e especialistas locais do samba. Em suma, a principal questão discutida era a falta de unidade florianopolitana em torno do projeto. Os sambistas da cidade estiveram na AABB, em maioria, para prestigiar o evento. Mas a cena emblemática de Hulk circulando sem entusiasmo, sem fantasia, dava o tom justamente da falta de integração e de uma certa inquietação.

Assanhamento

A impressão que ficou é que os embaixadores locais da Grande Rio terão que trabalhar bastante para convencer o mundo do samba de que o projeto não é de uma escola, mas do carnaval catarinense como um todo. Embora, ressalve-se, o assanhamento entre muitos sambistas é grande, porque querem também participar da folia do Rio.

Ênfase

Em todos os momentos, o mestre-de-cerimônias – Fenelon Damiani – fazia questão de destacar: o projeto da Grande Rio, de levar Florianópolis à Marquês de Sapucaí no ano que vem, não tem patrocínio público direto. Todos os recursos serão arrecadados através da Lei Rouanet (renúncia fiscal). E, como Florianópolis é uma marca nacional, não vai ser difícil.

Cascaes contemporâneo

Ainda não foi visitar a exposição, leitor? Não tem problema: desenhos e esculturas (foto) de Franklin Cascaes continuam em exposição no Palácio Cruz e Sousa até 29 de agosto, nos dias de semana das 10 às 18h e nos sábados e domingos das 10 às 16h. Fui conhecer a proposta do curador Fernando Lindote no fim de semana. Lindote proporciona um olhar contemporâneo sobre a obra de Franklin Cascaes, como se seus objetos e desenhos tivessem sido produzidos ainda há pouco. É por isso que o espaço da exposição estava lotado de jovens na manhã de sábado.

Ninho perdido

Leitor Paulo Roberto envia mensagem relatando sua preocupação com o destino da reserva de Mata Atlântica que fica no entorno do antigo Motel Meiembipe. O tradicional estabelecimento da SC-401, primeiro do gênero na Grande Florianópolis, inaugurado em 1974, foi negociado com o grupo gaúcho CFL. A área tem 175 mil metros quadrados e, no lugar do ninho de amor, surgirá um complexo corporativo Triple A (conceito máximo em sofisticação).

Via Floripa

No site da empresa de comunicação que atende a CFL está explicado que o empreendimento ocupará 50 mil metros quadrados (menos de um terço da área total do terreno) e que o projeto integra a chamada Via Floripa, “parte nobre da SC-401 (…), parceria entre governo e iniciativa privada. A ideia é transformar o local numa avenida charmosa, com muito verde, calçadas largas, ciclovia, espaços para eventos e quiosques para aluguel de bicicletas”. A tal parte nobre fica entre o viaduto do Monte Verde e o acesso a Cacupé.

Perdas acumuladas

A preocupação do leitor, quanto à preservação ambiental, é justificada – afinal, já perdemos muito da nossa qualidade de vida com intervenções contínuas, mudanças oportunistas no Plano Diretor, descaso oficial e tantos outros desacertos históricos. E, sinceramente, perder o Meiembipe – ponto de referência indispensável de nossa memória recente – é apenas mais um pequeno detalhe nessa avassaladora trajetória do “progresso”.

Obra fantasma

As fundações de um novo prédio no centro de Florianópolis avançam em ritmo acelerado. As obras acontecem nos fundos do prédio da prefeitura. Ninguém sabe ao certo o que vai sair ali, porque não há placa (obrigatória) informando sobre o projeto, número de licença da prefeitura e dos órgãos ambientais, construtora e engenheiros responsáveis etc. e tal. O que sei é que se trata de um edifício garagem, porque é o que comentam nos cafés da região. Tentei contato com autoridades municipais, ontem, mas não fui bem-sucedido.

Local histórico

O terreno onde estão sendo realizadas as fundações pertenceu ao governo do Estado. De um lado – face da Arcipreste Paiva – funcionou em um casarão, na década de 1970, a Biblioteca Pública do Estado. O imóvel, comprometido por problemas estruturais, foi demolido. A área funcionou por mais de 30 anos como estacionamento do Besc e da Secretaria da Fazenda.

Cine BRDE – Já que é tão ruim a programação dos cinemas de circuito comercial, vale a dica: hoje, às 19h, no Cineclube BRDE, o filme Virtude Selvagem (The Yearling, 1946), direção de Clarence Brown, com Gregory Peck e Jane Wyman.

Cine Badesc – E no Cineclube do Badesc, também hoje, 19h, O Primeiro a Chegar (Le Premier Venu), de Jacques Doillon, 2007, produção franco-belga, com Clémetine Beaugrand e Gérald Thomassin.

Campo de pouso – Questão do aeroporto de Florianópolis vai ser discutida amanhã na Câmara Municipal, que está retomando suas atividades. Requerimento do vereador João Amin tem objetivo de cobrar da Infraero soluções para o nosso acanhado campo de pousos e decolagens.

Glória – Desterro Rugby venceu o Rio Branco, em São Paulo, no sábado, por 48 a 13, honrando a história do esporte em Santa Catarina. Equipe, que pode ser tetracampeã brasileira em 2010, continua sem patrocínio e sem apoio de ninguém.

Câmara – Grupo de entidades de Florianópolis está se organizando para cobrar solução quanto à reforma do prédio do Palácio Dias Velho, a nossa antiga Casa de Câmara e Cadeia. Querem respostas para denúncias divulgadas e, também, a continuidade dos trabalhos, de acordo com as normas legais.

Ordem – O prefeito Dário Berger reassume hoje as suas funções no Paço florianopolitano, dez dias depois que saiu de férias. Há inúmeras questões à espera de providências. A cidade precisa de um choque de ordem.

5 comentários sobre “Ponto Final – 2 de agosto

  1. Pede para o Diretor de Patrimônio da Secretaria de Estado da Administração explicar a negociação. Foi tudo na surdina. A tal publicidade existiu apenas no processo. Nas publicações oficiais só apareceu o número de identificação do terreno. A cessão de uso é por 30 anos, e o Estado vai ganhar uns trinta e poucos mil mensais. Na hora de vender o prédio da Fazenda a SEA vai ver a bobagem que fez, pois o edifício com estacionamento era bem mais valorizado.

  2. Damião, na região do Cacupé há um “condomínio inteligente” que é um primor em termos de “conservação”… Para o que está sendo proposto para a área do entorno do Motel Meiembipe razões sobram para por as barbas de molho. Caso tenha a chancela do governo estadual, criador daquela lei ambiental, então… Com relação a essa história da carochinha de não uso de recursos públicos, pois tudo deriva de renúncia fiscal, trata-se de considerar a população como idiota. A questão: estarão as partes envolvidas promovendo atividades de interesse de toda a sociedade? Tenho dúvidas. Renúncia fiscal para esse caso é um tanto estranho. Ainda: a obra fantasma é tão fantasma que o pessoal da prefeitura nada viu? Onde está a sede da Prefeitura? Ah, o prefeito retornou as atividades? Ótimo! Alguem sentiu a ausencia dele nesses dias de folga? Talvez algum oficial de justiça…

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